Embaixador dos EUA defende fim da tarifa do etanol

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Embaixador dos EUA defende fim da tarifa do etanol

Shannon, futuro embaixador no Brasil, diz que medida seria benéfica para os EUA, mas depende do Congresso

Patrícia Campos Mello

Thomas Shannon, indicado para ser embaixador dos Estados Unidos no Brasil, defendeu ontem a eliminação da tarifa de importação do etanol brasileiro. “Acho que a derrubada da tarifa seria benéfica para os Estados Unidos e o Brasil, mas reconheço que no Congresso há outras visões”, disse Shannon, durante sabatina de confirmação no Senado, em resposta a uma pergunta de um senador.

Shannon, cuja nomeação deve ser votada até o fim do mês, foi um dos idealizadores do memorando de entendimento assinado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush em 2007 para estimular a integração da indústria de biocombustíveis dos dois países. O memorando não avançou muito, mas deu a dimensão da importância no relacionamento entre os dois países.

Segundo Shannon, o objetivo do Brasil é derrubar a tarifa para abrir mercados, mas a realidade atual é que o País não produz o suficiente para abastecer seu próprio mercado. “Portanto, a eliminação da tarifa não criaria impacto imediato”, disse Shannon, em sintonia com o discurso dos produtores de etanol brasileiros. “Olhando para frente, a maneira pela qual o Congresso vai lidar com a tarifa do etanol pode promover ou impedir a cooperação entre EUA e Brasil.”

Shannon, que atualmente ocupa o posto de mais alto diplomata americano para o Hemisfério Ocidental, falou também da importância de os Estados Unidos cooperarem com o Brasil na exploração de petróleo. “O Brasil tem um papel muito importante de criar estabilidade na oferta de petróleo fora do Oriente Médio.”

O diplomata afirmou que já existem elementos para Brasil e EUA desenvolverem uma parceria estratégica. “Os dois países entendem a relação não apenas em termos regionais, mas em termos globais”, disse. “O Brasil está determinado a ser um protagonista nas decisões globais, desde mudanças climáticas até a não-proliferação de armas, e quer ser encarado da mesma maneira que as potências tradicionais.”

Shannon serviu a diplomacia de democratas e republicanos e e seu nome agrada a Brasília. Fala espanhol e português fluentemente. Esteve à frente da transformação da política externa para a América Latina nos últimos anos. Antes de assumir no Departamento de Estado, a política da Casa Branca era excessivamente ideologizada. A agenda para a América Latina era composta basicamente de terrorismo, drogas e livre-comércio e centrada em Cuba e outros países “adversários”, como a Venezuela. Shannon começou a mudar essa agenda ainda no governo Bush.

“A emergência de potências globais no continente, como o Brasil, alterou o caráter das nossas relações com a América Latina”, disse Shannon, em entrevista ao Estado, em março. Segundo ele, o relacionamento entre os dois países “é um reconhecimento da ascendência do Brasil no mundo.”

Shannon é casado com uma guatemalteca e tem dois filhos, de 19 e 16 anos – o mais velho nasceu em Brasília. Ele serviu na Embaixada dos EUA em Brasília entre 1989 e 1992, como assistente especial. “Estou até hoje sob impacto desse país vibrante e ambicioso; fiquei muito impressionado com a sociedade aberta”, disse Shannon, na introdução da sabatina. “A diversidade étnica e racial do Brasil é muito parecida com a dos EUA.”

Apesar da ênfase na importância do Brasil e da América Latina, a região estava desprestigiada na sabatina de Shannon, Arturo Valenzuela (indicado para o atual posto de Shannon) e os indicados para embaixadas no México e Haiti. Os senadores entravam e saíam da sessão e deixaram os indicados esperando meia hora, enquanto iam votar no plenário. Não havia jornalistas americanos.

Veículo: O Estado de S. Paulo
Publicado em: 09/07/2009 – 08:37